domingo, 2 de janeiro de 2011

Confissões travesseirais

Esse é o momento mais ansioso do dia. Eu deito a cabeça em um travesseiro, coloco outro entre as pernas para que meus joelhos não se toquem e uso outro entre um braço e o primeiro travesseiro, como se o abraçasse. É o momento do dia que eu tenho certeza que estarei só comigo mesma. Tenho apreciado muito esse momento. Talvez essa seja a razão de eu estar tão ansiosa para dormir em casa todo dia. Nem pareço mais a menina que tinha medo do escuro e odiava dormir sozinha. Hoje prezo essa companhia de mim mesma. É um momento delicado que divido apenas com meus travesseiros. Talvez seja esse o motivo de eu ser tão apegada a eles, principalmente o que eu abraço. Será que vai chegar o dia em que não mais precisarei desse momento? O dia em que ao invés de um travesseiro eu abrace uma mulher? E fique com a cabeça relaxada em seus ombros ou, até melhor, ter a cabeça dela relaxada em meus ombros de modo que eu possa sentir o cheiro que vem do seu cabelo e a docilidade de todo seu corpo tão perto do meu? Será que eu sou tão apegada aos meus travesseiros porque preciso tanto de alguém que durma e acorde ao meu lado? E o que farei sem esse momento tão ansioso em que eu penso tanto? Acho que quando o momento de eu não precisar mais desse momento ansioso, de eu não precisar mais desse travesseiro quase abraçado, quando não precisar pensar tanto, vou conseguir finalmente respirar como qualquer ser humano e não ser tão ansiosa. Acho que sou tão ansiosa porque anseio esse momento-sem-travesseiro desde que me lembro de qualquer coisa que possa ser lembrada. E quando esse momento chegar talvez não escreva tantos textos estranhos como esse. Talvez eu descubra que tudo é muito menos complicado que eu penso. Pena que eu não sei esperar. Se eu soubesse não haveria travesseiro de meio abraço, não haveria apego, não haveria tantas complicações e preocupações, não haveria esse texto, não haveria espera. Eu não entendo isso: não haver espera. Sempre há uma espera. Minha vida é um conjunto de esperas. E uma das coisas que mais me angustia é esperar. Logo; minha vida é uma angustia? Não, eu a faço dessa forma porque paciência é uma virtude que não é minha, mas que eu hei de conquistar.

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