Eu me sinto muito cansada, porque parece que me encaixar no mundo não é fácil. Não é à toa que o símbolo do autismo é um quebra-cabeça, porque é difícil mesmo se encaixar. Parece que a gente é peça diferente do universo.
Parece que coisas que são simples pra todo mundo, pra gente é muito difícil.
Eu tenho nível de suporte 1.
Parece que é uma coisa leve, e eu me sinto sortuda por várias coisas da minha vida — isso é uma delas.
Mas não é porque é nível 1 que eu não preciso de um suporte, porque parece que é isso: pra eu suportar o mundo, eu preciso de apoio.
Porque eu não consigo.
Parece que o mundo tá cheio de cheiros que me fazem mal,
que tá me atacando pelo próprio ar que eu preciso pra viver.
E às vezes eu só me canso.
Me canso de ver problema em tudo.
De ficar estressada com tudo.
De ter essa rigidez cognitiva que me limita de viver,
presa com uma bolha geográfica.
De viver segura só dentro da minha rotina.
De me contentar com pouco, porque é melhor o pouco do que o que eu não conheço.
De tudo ser um obstáculo.
De odores serem torturantes.
De batalhar pra ser compreendida todo dia.
De sentir coisas que ninguém sente.
Cheiros que ninguém cheira.
Ouvir barulhos que ninguém ouve.
De falarem que não é nada demais.
Que eu sou chata.
Que eu sou dramática.
Ou que eu sou teimosa.
Ou que eu sou fresca.
Só porque eu sinto mais dores, mais incômodos.
Só por eu ser quem eu sou.
Eu sei que é chato mesmo.
Eu também acho.
Eu odeio isso.
É chato.
Eu sei que é cansativo.
Eu me canso.
Eu tô muito cansada.
Tem dias que são bons.
Mas tem dias que
eu tô muito cansada de mim mesma.
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