segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

À meia noite e trinta e quatro


Então escuto o barulho do celular vibrar. Olho rapidamente a hora: meia noite e trinta e quatro. Aproximo-me do aparelho e atendo o celular perguntando-me quem poderia ser tão tarde. Não demoro a ouvir a voz de uma aluna me falar o seu nome seguido de um desculpa-estar-ligando-tão-tarde-mas-estou-tão-mal. Ouço sua voz se transformar num choro de desabafo enquanto fala algumas coisas explicando-me de sua tristeza. Enquanto respiro fundo dizendo-a que tudo bem ter ligado à meia noite e trinta e quatro, eu-não-estava-dormindo, e não estava mesmo e também não importa que estivesse, teria atendido e ainda assim teria ficado feliz ao atender. E eu fiquei feliz ao atender. Fiquei feliz mas não por ela estar triste e sim porque ela poderia estar triste e só, ela poderia estar triste e se afundar em tristeza sem nenhuma palavra amiga, mas ao invés disso ela estava triste e me ligou à meia noite e trinta e quatro. E fiquei feliz por ela ter tido a consciência de que poderia me ligar à meia noite e trinta e quatro para chorar não mais só e para pedir um pouco de amparo e uma palavra amiga. Fiquei feliz porque ela entendeu que eu sou o tipo de professora que não tira férias, e que está disponível em qualquer hora até mesmo à meia noite e trinta e quatro. Ela entendeu que eu sou o tipo de professora que não ensina português, que não ensina nada na verdade, mas que aprende junto, que vive junto, até mesmo à meia noite e trinta e quatro. Ela entendeu que eu sou o tipo de professora que ouve tudo sem julgamento a qualquer hora, até mesmo a meia noite e trinta e quatro. Ela entendeu que para se ser professor de verdade é preciso se importar de verdade e, naquela meia noite e trinta e quatro, ela precisava de alguém que se importasse de verdade. E com aquela ligação de 11 minutos, ela ensinou-me muito mais do que as 120 horas de estágio que já fiz, pois naqueles 11 minutos à meia noite e trinta e quatro, ela me mostrou que eu estou no caminho para ser a professora que desejo ser e que sendo essa professora que desejo ser, não só existem notas boas como consequência, mas também alunos menos sós e mais felizes.

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