quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Passos no Passo

“No meio dos girassóis do leste, à beira dos lajeados ao sul, pelos descampados do norte até mesmo entre os vãos mais sombrios das areias a oeste” Caio Fernando Abreu.

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Baseado no texto "Introdução ao Passo da Guanxuma" do livro "Ovelhas Negras" do Caio Fernando Abreu.
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Desde a primeira vez que ouvi falar sobre o Passo da Guanxuma tive vontade de conhece-lo. Essa bela cidade pouco falada que testemunha muitas coisas diferentes em cada ponta de cada estrada. Quando a conheci pela primeira vez fiz questão de conhecer cada estrada que chega ao Passo. A bela cidade que se olhada por cima pode ser comparada a Rosa dos Ventos ou até mesmo uma aranha se olhada com cuidado.

Cada estrada corresponde a uma pata da aranha. A pata do Leste é chamada de Os Plátanos e começa seu caminho em direção a Porto Alegre. Foi a primeira que quis conhecer por ser a estrada considerada a dos sonhadores e românticos. Já tinha ouvido muita gente falar do Túnel do Amor que é formado pelos plátanos que de tão altos ocupam os dois lados da estrada quase que chegando a se misturar. Enquanto passava pelo túnel sentia a energia positiva da cidade emanando em mim e me levando a um estado bem mais sonhador do que de costume e entendi perfeitamente porque o Leste era tão visitado por amantes de várias partes e tipos. Era fácil se encontrar em um lugar tão maravilhosamente poético e inspirador. Comecei a pensar que talvez tenha sido desse jeito que Dulce Veiga tivesse se sentido ao retornar ao Passo, onde nascera, antes de sumir sem deixar vestígios. Após uma estrada de terra passei pela casa de Madame Zaly, a vidente cega de um olho que via muito nas cartas e ajudava a todos pelos seus chás maravilhosos. Não me atrevi a entrar na sua casa embora tivesse muita curiosidade em tentar decifrar-lhe o sotaque que cada um dizia ser um.

A pata do Norte é chamada de As Sangas onde se estende a maravilhosa praia de da saga de Caraguatatá, que seria muito mais bonita se não tivesse vestígios das noites de sexo e bebedeiras comandadas pela paraguaiana meio indiana La Morocha que tem algumas pensões onde a soldadesca, rapazes e alguns homens de família freqüentam. O lado Norte ao contrário do lado Leste não tem romantismo algum, apenas a paixão que aflora nos corpos jovens ou velhos e leva ao sexo. Sim, essa é parte erótica da cidade. Porém apesar de todo erotismo podemos nos maravilhar com a vista da praia e todas aquelas pedras onde, um dia, acharam o corpo nu do infeliz do Dudu Pereira, assassinado com uma pedrada na cabeça. Não quis passar muito tempo no lado Norte e logo segui minha viajem descobrindo cada vez mais sobre as fofocas que rondavam a cidade.

Meu próximo passo foi a pata do Sul: O Arco o lugar que me senti em casa pelo tanto de gente que falava e agia que nem carioca. Logo que cheguei percebi o porquê do nome. O ponto mais alto dessa parte da cidade é o arco branco do quartel que pode ser visto desde a praça central. Além de Rosa dos ventos e aranha alguns dizem que o Passo é um guerreiro valente que não largou nem o arco e a seta. Mas essa não é apenas a história que gira entorno na parte do Sul. O mais interessante é que eles tem até uma santa própria, Gorete dos Lírios, que dizem ter sido estuprada e degolada aos nove anos, porém ninguém lembra mais do episódio e nem sequer saber se aconteceu de fato. Mas o fato é acreditam que os milagres realizados pela santa são muito reais.

Finalmente mas não felizmente chego ao ultimo estágio da cidade,o Oeste, a ultima direção do arco do guerreiro,a ultima ponta da rosa, a ultima pata da aranha: O Deserto que é areia vermelha atrás de areia. A única coisa que pude conhecer ao Oeste, além do palacete de Nenê foi a história - que como todas as outras do Passo já viraram lendas – de Eliana Tabajara que dizem ter sido a mulher mais linda do Passo, que desapareceu e, agora, cada um conta uma história diferente sobre o destino que teve.

E essa é a cidade estranha e contraditória que conheci através da imaginação e inspiração. A cidade da aranha, da rosa e do guerreiro. A cidade do jonarlista-que-perdeu-o-nome, a cidade que conta tantas estórias, tantas lendas, tantas fofocas, tantas palavras que te fazem viajar e conhece-la. Passo da Guanxuma saiu do papel para ser real nas mentes vivas de quem lê sua Introdução, assim como eu, que me apaixonei pela fantasia em forma de realidade. Isso é o que se conta, o que se diz, o que se vê e não se vê, mas se imagina do Passo do Caio que não pára de crescer, nunca.

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