quarta-feira, 26 de junho de 2013
terça-feira, 11 de junho de 2013
O vento responde
Tudo
começou pelos animais. Aqueles rostinhos brilhantes e carinhosos que a chamavam
para um abraço. Não que os seres-humanos não soubessem abraçar, mas seus
abraços, muitas vezes, eram só com os braços e os cachorros, por exemplo, não
tinham braços e precisavam abraçá-la de outra forma. E ela gostava dessa outra
forma: o olhar cheiroso de fidelidade e principalmente os ouvidos silenciosos,
porque seu cachorro sabia ouvir como ninguém e ela então desabafava tudo que
precisava e ele a escutava companheiro e respondia do jeito que podia. Mas essa
história não é fantasiosa e animais não batem papos com humanos. É apenas a
mágica realidade das coisas vivas e ela ama todas as coisas vivas. E quem há de
negar que o cachorro seja vivo? E se o é por que não contá-lo sobre nossos
dias, medos e desejos? E ela contava e foi aí que começou tudo. A partir daí
tudo o que era vivo lhe fascinava e também lhe ouvia. Para que matar formigas
indesejáveis e tão pequenas, tadinhas? Conversemos com elas que elas nos ouvem.
E ouvem mesmo e respondem como podem e como os cachorros também abraçam como
podem. As formigas andam, escutam e são vivas, muito vivas. Mas quem há de
negar que formigas são vivas? Assim como as árvores e as flores. E ela
descobriu que as árvores não choram, mas servem. E ela descobriu também que
pode conversar com elas e abraçá-las porque as árvores entendem e também amam,
mesmo que não saibamos como amá-las de volta, mesmo que as destruamos elas amam
porque elas sabem perdoar e nos perdoam. Voltam a crescer e nos servir e nos
ouvir. Elas são velhas e muito sábias. E a menina descobriu que as flores
perfumam aqueles que olharem. E quem há de negar que as árvores e as flores são
vivas? E o vivo lhe fascinava tanto tanto que passou a buscá-lo em vários
lugares e assim chegou ao vento, porque o vento é vivo, apesar de negarem. Vivo
e sábio. Ele passeia por todo o mundo e conversa com o cachorro, com a formiga,
com a árvore, com a flor e com a menina. E ela conversa com ele e ele ouve e
responde como pode, abraça-a como pode e reconforta-a porque ele é vivo e ela
ama tudo que é vivo. Mas além do amor pelo vivo ela também se sente deslumbrada
por outra coisa: a destruição. E ela então entende seu fascínio sem o entender
o porquê das coisas que vão virando paradoxos, antíteses e oxímoros. Talvez ela
se sinta tão vislumbrada pela destruição justamente porque ame tanto a vida,
apesar de ser um pensamento contraditório. Talvez quando duas coisas se
contradizem nunca estiveram tão próximas, talvez. A verdade é que não se
destrói a vida, porque ela está sempre viva, mesmo que não saibamos exatamente
o que ela é ou como defini-la. A verdade é que a destruição não causa a morte
da vida porque ela não morre. A destruição só prova que a vida está sempre
pronta para um recomeço. E a menina só é capaz de entender tudo isso e tudo
nela se ela conversar com o vivo. E vento que vive eternamente, sempre responde
muito bem.
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